quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Ideologia do consumismo, como viver e como evitar

Consumir é uma necessidade; temos as coisas, dispomos de recursos para fazer uso deles, mas é possível usar de forma abusiva os recursos, ou depender deles de forma descontrolada, irracional e até patológica. O consumo pode ser compreendido de forma positiva e sadia. Assim, gastar, utilizar, empregar são formas consideradas positivas de consumir.
Entretanto, a palavra consumir porta consigo, também, significados negativos, tais como dilapidar, gastar desenfreadamente. No que diz respeito ao uso do dinheiro pode ser compreendido de forma positiva: aplicar dinheiro na compra de artigos de consumo e serviços, comprar, gastar em coisas necessárias, lícitas, razoáveis e honestas.
Tem também uma semântica pejorativa: comprar em demasia e freqüentemente sem necessidade. O consumismo se tornou uma mentalidade que alimenta e estimula a ótica da produção e do lucro na ênfase dada às necessidades, que mesmo sendo objetivamente inexistentes, passam a ser criadas, no caso das formas distorcidas de entender o consumo. O consumismo é a patologia da sociedade capitalista: o consumismo, verdadeira deformação do sistema capitalista, se insere no desejo exasperado de possuir e de consumir.
O desaparecimento das raízes morais, faz do prazer o critério fundamental das suas escolhas. As necessidades não existem, mas passam a existir. As pessoas, muitas vezes sem tanta consciência vão entrando no jogo da propaganda e compram de maneira desordenada e sem critério. Registra-se a passagem da economia da subsistência para a economia do desejo. Faz-se uma liquidação ética do trabalho, da austeridade, a eliminação do sacrifício e das restrições, do autocontrole, do passar sem certas coisas.
Como se sabe, os bens de consumo foram fabricados para não ter grande durabilidade, exatamente para favorecer uma constante busca de compra, oferecida pela venda dos produtos, mantendo sempre viva as leis de mercado feita pela procura e pela oferta. E a propaganda estimula o consumo, criando necessidades e levando as pessoas a consumir, alimentando a produção e o comércio. Por isso, não se fabricam coisas de longa durabilidade, mas de vida útil bastante curta, exatamente para induzir e até impor às pessoas estes hábitos.
grande ênfase dada à auto-realização: tornou-se uma tendência de tipo mais individualizada que descambou na sua caricatura deformante, a saber, a mentalidade individualista no cultivo do mito da realização pessoal. A experiência se faz valor supremo e a dependência do outro ou do grupo se relativiza ao extremo. Coloca-se em risco a dimensão da comunidade, a ponto de reduzi-la a mera coletividade, individualidades que não interagem, mas estabelecem contatos não significativos, esporádicos e instrumentais: eis como nascem as formas individualistas. O bem do grupo e da sociedade é de tal modo colocado em segundo plano que o indivíduo (com seus interesses e sua felicidade) se torna a única medida, o único referencial para tantas escolhas e decisões importantes.
Não podemos chamar de valores a tantas coisas e a tantos princípios da ideologia do consumismo, tão presente no sistema capitalista. Por isso, exporemos com atenção essa maneira de ver a realidade, o mundo, as coisas e as pessoas. Trata-se de uma sociedade onde se difunde a queda do senso do limite. As pessoas são valorizadas enquanto possuidoras de coisas. O estilo consumista é opulento, ou seja, glorifica o luxo, o desperdício, o excesso e despreza a austeridade. Esta plataforma interpretativa conduz a reducionismos perigosos, a injustiças clamorosas de modo que a pessoa vale enquanto tem, enquanto produz, enquanto consome. Sem entrar neste esquema, ela sofre uma brutal eliminação e discriminação.
O consumo vive sob o estímulo que se dá à posse e ao apego. A propaganda apresenta a posse como um valor ou como valor. Além do consumo, a publicidade se encarrega de apresentar ummodelo de vida um jeito de ser homem e de ser mulher nos hábitos, na maneira de vestir-se, no tipo de lazer, nas ocupações, no tipo de bens consumidos, etc. A posse representa, então, a totalidade do sucesso, também para mostrar o próprio status social, o prestígio obtido e o poder que se conseguiu. Quanto maior e mais caro for o bem possuído, tanto mais raro ou mais cotado e ambicionado por tantos e ao alcance de poucos, tanto mais importância o consumidor possui. Eis porque o consumo deve ser ostentado por estes que entram nesta mentalidade. Para estas pessoas é muito importante estabelecer um mecanismo de confronto com os outros que possuem mais, que gastam mais, que aparecem mais, que se exibem mais.
Pode-se deduzir, desta mentalidade idólatra e fugaz, o quanto estes estereótipos vão dando a cadência e vão definindo o jogo da vida, marcado pela aparência e pelo fingimento. O consumo envolve qualidade: as mesmas coisas poderiam ser compradas por preços mais acessíveis, mais em conta. Na mentalidade capitalista, os objetos de luxo, de marca, os que trazem uma determinada grife, com preços exagerados são índices de riqueza e ajudam a construir uma imagem. O consumismo, enfim, promove uma forma hedonista a ponto de se querer ter sempre mais para se desfrutar sempre mais, ter mais para mostrar, exibir, esnobar.
O consumo como comunicação de uma imagem de si: o que se consome nas sociedades capitalistas, onde o consumismo atingiu níveis substanciais, torna-se sinal de identidade. O consumo sempre teve aquele valor comunicativo, sinal de pertença a um grupo determinado. O valor da compra permite uma imagem social, uma imagem que se transmite aos outros. Os bens tornam-se visíveis e estáveis às categorias da cultura. A vitória do mercado torna-se a vitória da liberdade de escolha e a identidade das pessoas se constrói na escolha entre uma pluralidade de referências sociais. Vem à tona a sociedade da imagem, da aparência e não a do ser, a da imagem e menos da substância.
Ora, quem anseia por uma vida mais simples precisa encarar a situação de frente, sem subterfúgios. As pessoas vivem ocupadas demais, com excesso de bens, contas para pagar (por possuírem coisas demais). Pode até ser que alguém já pensou: «parem o mundo que eu quero descer!». Pois bem, estes são candidatos à simplicidade, inimiga do consumismo. Vida simples não quer dizer uma pobreza auto-imposta ou ambições menos elevadas. Nem muito menos é uma existência vazia e enfadonha. A vida simples não subtrai nada de ninguém, mas até pode acrescentar qualidade e contentamento a quem a deseja.
Por isso, de maneira direta, responda: você tem coisas que não usa e estas coisas estão somente ocupando espaço? Então, livre-se delas (doe-as a quem não as têm e que até precisam destas mesmas coisas). Sua agenda está tão cheia que você nem tem tempo para pessoas ou atividades que são importantes para você? Então aprenda a dizer não. Aprenda a estabelecer prioridades e não deixe que os gritos da urgência venham a sufocar os apelos da importância. Aprenda a dizer não, sem complexos de culpa, sem remorsos, mas com responsabilidade. Você não é o salvador do mundo. Porém, não exagere nestas idéias, distorcendo-as a ponto de cair numa centralização exagerada. Saiba dizer sim com responsabilidade e generosidade. Deus não conduz ninguém a uma vida estressada e complicada. As pessoas chegam lá sozinhas. Por isso, aprecie a simplicidade, aprenda a se divertir sem gastar muito. É possível viver bem sem tantos gastos. É preciso administrá-los e avaliá-los bem. A satisfação verdadeira não está em ter muito ou comprar muito.
Nunca deixe suas aspirações superarem os seus ganhos ou suas condições: use de discernimento a respeito disso, sem nunca deixar de ousar para fazer o bem, uma vez que a Providência de Deus é a forte aliada de quem confia e espera, de quem trabalha e faz por onde as coisas acontecerem. Prudência e fé é o remédio. Aprenda a fazer uma leitura de fé a respeito do que você não tem: quem sabe se não será uma formação de Deus? Não viva de aparências, mas de interioridade. Avalie honesta e sinceramente suas necessidades materiais e não crie necessidades. Vez por outra faça um despojamento e todos os dias um bom exame de consciência se o que você tem é necessário e importante, se você está fazendo um bom uso do que tem e se as compras que almeja fazer são realmente necessárias. Lembre-se: o que você é tem pouca semelhança com o que você possui. Em meio a tanta ideologia do ter, um natal voltado para o essencial não seria um bom presente para a pobre criança de Belém, aquela da manjedoura, aquela mesma que é Deus no seu doce abaixar-se?

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