Eles gastam
muito
Com
um apetite consumista maior
que
o da média da população, o jovem brasileiro
sabe onde quer gastar e ainda influencia as
compras da família.
São adolescentes, mas
pode chamá-los de maquininhas de consumo. Um estudo realizado com garotas e
rapazes de nove países mostra que no Brasil sete em cada dez jovens afirmam
gostar de fazer compras. Desse grupo de brasileiros, quatro foram ainda mais
longe – disseram ter grande interesse pelo assunto. O resultado da pesquisa,
que tomou como base um trabalho da Organização das Nações Unidas (ONU) chamado
Is the Future Yours? (O Futuro É Seu?), foi significativo: os brasileiros
ficaram em primeiríssimo lugar no ranking desse quesito, deixando para trás
franceses, japoneses, argentinos, australianos, italianos, indianos, americanos
e mexicanos. Ou seja, vai gostar de consumir assim lá no shopping Center.
E não precisa nem mandar, porque a turma vai mesmo. Outra pesquisa, feita pelo
Instituto Ipsos-Marplan, constatou que 37% dos jovens fazem compras em
shoppings, contra 33% dos adultos. Nem sempre os mais novos adquirem produtos
mais caros, mas, proporcionalmente, têm maior afinidade com as vitrines. A
lista de vantagens dos adolescentes sobre outros públicos é de tirar o fôlego:
eles vão mais vezes ao cinema, viajam com maior freqüência, compram mais tênis,
gostam mais de roupas de grife – mais caras que as similares sem marca famosa
–, consomem mais produtos diet, têm mais computadores, assistem a mais DVDs e
vídeos e, só para terminar, são mais vorazes na hora de abocanhar balas,
chicletes e lanches. Não é à toa que a falência antes do fim do mês é maior entre
os jovens: invariavelmente atinge quase a metade deles, que estoura a mesada ou
o salário.
O poder dos
adolescentes sobre o mercado vai mais longe ainda, mesmo que eles não deem a
mínima para abstrações como "mercado". Costumam, por exemplo,
aparecer com mais assiduidade no balcão. Pessoas com menos de 25 anos trocam de
aparelho celular uma vez por ano (as mais velhas, a cada dois anos). Em relação
às bicicletas, só para citar mais um exemplo, a situação é semelhante. Os
adolescentes não são os maiores compradores do setor, mas aposentam uma bike a
cada quatro anos. Os mais velhos só mudam de selim de sete em sete anos. Diante
de tantas evidências, não causa surpresa que o gasto médio das famílias
brasileiras seja maior nas casas em que moram adolescentes de 13 a 17 anos.
Nesses domínios, a lista dos cinco produtos mais consumidos traz, em primeiro
lugar, o leite longa vida. Depois vêm os refrigerantes. Nos lares com jovens
entre 18 e 24 anos, a hierarquia é surpreendente. O refrigerante lidera o ranking,
seguido por leite, óleo vegetal, cerveja e café torrado – o que explica o fato
de a Coca-Cola ter no Brasil seu terceiro maior mercado em todo o mundo.
O poder de consumo dos jovens é um
filão que anima vários setores da economia. Há em curso uma corrida para
conquistar o coração dessa rapaziada (e o bolso dos pais). As grandes marcas
desenvolvem estratégias milionárias para tornar esse público fiel desde já. A
maior parte do que se produz no mercado publicitário, que movimenta 13 bilhões
de reais por ano, tem como alvo a parcela de 28 milhões de brasileiros com
idade entre 15 e 22 anos. É esse grupo que fornece boa parte do ideário da
propaganda, enchendo os anúncios com mensagens de liberdade e desprendimento.
Mostra-se extraordinária também a influência que essa molecada exerce sobre as
compras da família. Oito em cada dez aparelhos de som só saem das lojas a
partir do aval da ala jovem do lar. A fabricante de eletrodomésticos Arno não
faz nada sem pensar nos mais novos, pois, na comum ausência das mamães
trabalhadoras, é a garotada quem usa espremedores de fruta, tostadores de pão,
sanduicheiras e liquidificadores. "Hoje, vendemos tanto para os filhos
como para as donas-de-casa", conta Mauro de Almeida, gerente de
comunicação da Arno, que mantém duas escolinhas de gourmet para cativar
consumidores desde a pré-adolescência.
Essa influência é
exercida já em tenra idade. Nos dias de hoje, um indivíduo é considerado
consumidor aos 6 anos. Nesse momento as crianças começam a ser ouvidas na hora
de tirar um produto das prateleiras do supermercado. Para cada dez crianças de
até 13 anos, sete pedem itens específicos às mães. O poder jovem também se nota
na hora de esvaziar o carrinho no caixa. Um quarto do que é registrado foi
pedido pela garotada. "Nós educamos as crianças e os jovens para que
tenham autonomia, opinião, poder de decisão. Pois é, eles aprenderam e decidem
o que comprar por nós", ironiza Rita Almeida, especialista em tendências e
hábitos de consumo de adolescentes da agência de propaganda AlmapBBDO.
*Reportagem retirada da revista veja, da edição de julho de 2012.